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Atenção, autogestão e saúde emocional

Foto do escritor: Vitor Santiago Borges Vitor Santiago Borges

        




    A compreensão sobre o protagonismo da atenção no equilíbrio psicológico e emocional de todos nós é fundamental. Ferramenta altamente flexível, a atenção atua em inúmeras operações mentais. Ela promove a compreensão, fortalece a memória, vitaliza a aprendizagem, fomenta a percepção do que sentimos e porque sentimos, auxilia na leitura das emoções dos outros e nos corrige para uma interação mais harmoniosa com o nosso ambiente cultural. Em síntese, ela se estabelece como a base principal de nossa saúde emocional. Se ela é fraca, nos saímos mal. Mas se é poderosa, nos fortalece nas mais diversas áreas.

         Nesta breve reflexão, procuro estabelecer o papel fundamental da atenção em nossas vidas a partir de uma tríade fundamental: o foco interno, o foco no outro e o foco externo. Uma vida realizada exige o desenvolvimento dessas três formas de atenção. Como um músculo, quando bem utilizada, a atenção se expande e fortalece, quando pouco utilizada, definha. Proveniente do termo latim attendere, a atenção é a nossa base de contato, nos conectando com o mundo e, ao mesmo tempo, determinando os contornos de nossa experiência e escolhas. É a atenção, por assim dizer, o embrião de toda consciência.

Entretanto, começamos a nos dar conta dos vários obstáculos inerentes ao ambiente tecnológico em que vivemos e que vêm produzindo um crescente subdesenvolvimento da atenção, principalmente nas crianças de hoje.


Uma tendência marcante é o fato de muitas crianças crescerem em uma nova realidade que as leva a se conectarem mais às máquinas do que às pessoas. E por muitos motivos isso é perturbador, pois o circuito social e emocional do cérebro de uma criança se desenvolve por meio dos seus contatos interpessoais ao longo de sua rotina. Por conseguinte, menos tempo passado com pessoas e mais tempo em interação com a tela do computador e do celular produz significativos déficits emocionais e sociais. Nos jovens de hoje constatamos em escala crescente uma dificuldade e resistência cada vez maior para a leitura. Mais motivados em checar as mensagens que lhes chegam pelos aparelhos celulares através do Instagram, do WhatsApp e Facebook, não se sentem atraídos em explorar a expansão de novas descobertas pela experiência literária. 

Em 1977, o visionário economista e vencedor do Nobel, Herbert Simon, atentou para este perigo alertando para o período em que vivemos, caracterizado pelo paradoxo do excesso de informação e empobrecimento da compreensão: “a informação consumirá a atenção de quem a recebe. Eis porque a riqueza de informações cria a pobreza da atenção”. Aliado à posição de Simon, o filósofo Martin Heidegger explanou posição semelhante de maneira profética nos idos de 1950: “A maré da revolução tecnológica cativa, enfeitiça, deslumbra e diverte de tal forma o homem que o pensamento computacional pode algum dia se tornar a única forma de pensar, o que acarretará uma perda do pensamento meditativo, tão fundamental para a essência de nossa humanidade”.

        

A reflexão profunda exige de todos nós uma mente bem focada, pois quanto mais nos distraímos, mais superficiais são nossas reflexões. Uma mente focada é capaz de se abstrair, intencionalmente, das distrações emocionais, o que significa que quem tem um foco aprimorado se torna relativamente imune às turbulências psicológicas, adquirindo maior capacidade em estar calmo durante os momentos de dificuldade, mantendo-se ordenado em meio às agitações da vida emocional. Por isso, a capacidade de tirar a atenção de uma coisa e transferi-la para outra é essencial para o bem-estar de todos nós. 

        

Há uma relação fundamental entre atenção e intenção. A intenção é nossa força motriz, aquilo que nos move em direção a metas e alvos que passamos a definir em nossa experiência, tendo em vista a nossa realização pessoal. É ela a nossa mais íntima consciência. Se eu intenciono chegar a algum lugar, a atenção será a minha ferramenta, o meu veículo. No que se refere ao meu bem-estar global, o foco interno, o foco no outro e o foco externo são fundamentais. Nesse sentido, a atenção voluntária, a força de vontade atencional e a escolha intencional envolvem operações a partir do córtex pré-frontal, sendo esta região cerebral a base de desenvolvimento para a autoconsciência, a reflexão, a deliberação e o planejamento. O foco intencional, portanto, oferece uma alavanca fundamental para a boa gestão do nosso cérebro. Mas se há uma operação assertiva que pelo foco intencional nos proporciona a autogestão de nossas experiências internas, há, ao mesmo tempo, uma operação mental errática que se desenvolve por meio das divagações. O foco intencional, no entanto, apresenta conexões sinápticas localizadas em nossa circuitaria descendente, mais acima no cérebro (neocórtex). Essas circuitarias mais evoluídas e maduras são, porém, mais lentas, ao passo que o automatismo atencional, a atenção desatenta, apresenta conexões muito rápidas formalizadas em nossa circuitaria ascendente localizada na estrutura subcortical, nosso cérebro mais primitivo, emocional, chamado de cérebro reptiliano. E nesse sentido, é como se a tartaruga precisasse vencer a lebre em uma corrida. De fato, a tartaruga precisa aprender a vencer a lebre, pouco a pouco.


Uma pergunta que costumo fazer no consultório psicológico aos pacientes é: “Ocorre de você se perceber em diversos momentos fazendo uma coisa e pensando em outra?” E sempre me respondem: “Frequentemente”. Partindo dessa pergunta referida aos pacientes em terapia, levantamos a questão: para onde os pensamentos divagam quando não estamos focados em nossa experiência concreta? Invariavelmente para o “eu” e suas preocupações, para aquela narrativa altamente emocional relativa a tudo sobre mim e que confere uma poderosa e ao mesmo tempo restritiva fixação no nosso ego.

O ego, portanto, é a matriz de nossa mente inquieta, produzindo fixações imaginárias relativas ao seu próprio valor e que fomentam as carências, vícios e vulnerabilidades emocionais em todos nós. A obsessão com o “eu” promove uma permanente tensão em nossas experiências internas, pois, apegado ao seu valor, nossa atenção transita por circuitos obsessivos difíceis de desenganchar. Por outro lado, quando a mente encontra foco em uma atividade criativa ou construtiva, ela desenvolve o que os psicólogos que pesquisam a criatividade chamam de flow. A mente flui e o bem-estar emocional resulta como consequência. Para a nossa autogestão, é fundamental o desenvolvimento de uma habilidade cognitiva chamada de “metaconsciência” que é basicamente a capacidade de sermos observadores neutros e desapegados dos nossos conteúdos mentais, especificamente, nossas representações emocionais alimentadas pelo nosso pretensioso e ao mesmo tempo inseguro ego.


Técnicas de meditação e mindfulness ajudam no desenvolvimento dessa habilidade e promovem o nosso foco interno. Com elas, aprendemos a nos relacionar com nossos conteúdos de forma autônoma, emancipada, integrando melhor o nosso self à realidade. São dois, portanto, os registros nos quais podemos aportar nossa experiência psicológica: o real e o imaginário.

No real, a mente se alinha aos acontecimentos concretos, objetivos, desenvolvendo um foco sensível e saudável. No imaginário, ela se desalinha, envolvendo-se em turbulências emocionais que proporcionam os estados de ansiedade e depressão. Torna-se, por assim dizer, uma mente sem rumo. Ser expectador e não ator das próprias narrativas mentais é o caminho aberto para o bem-estar emocional, mas para isso há a necessidade de desenvolver o foco interno, atento e puramente observador em relação às narrativas emocionais e imaginárias. Com o foco interno, potencializa-se a capacidade de desapego e a experiência mental desenvolve a capacidade de presença experiencial, antes sabotada pelas obsessões imaginárias.

Quanto ao foco no outro e no ambiente externo, ocorre basicamente o mesmo, pois o ego – alimentado pela mente desatenta que rumina obsessivamente sobre si próprio – encontra-se incapaz de perceber com maior amplitude e profundidade tanto os outros com quem se relaciona, como também o ambiente que concretamente experimenta. Por ser obsecado quanto ao seu valor, o ego ocupa-se muito mais em como os outros o percebem do que em perceber. Seu compromisso é formulado em “o que eles estão pensando a meu respeito?”. Com isso perde de vista a percepção qualificada do outro e do ambiente em que se encontra, criando pontos cegos, pois não é o pensamento imaginário que potencializa nossa consciência, mas a capacidade de estarmos intencionalmente atentos ao valor do momento experimentado. Em síntese, o pensamento que reproduz as ruminações é o maior obstáculo à consciência, sendo que esta, que se amplia a partir da boa atenção.


Resumindo, a atenção plena em direção à nossa experiência, tanto interna quanto externa, no momento presente de nossas vivências reais é o princípio e o fim do nosso bem-estar emocional e do aprimoramento de nossa autogestão. Mas a tartaruga precisa aprender a vencer a lebre...          



Vitor Santiago Borges – Mestre em Psicologia Clínica  

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