Lapso e Recaída: Qual a Diferença e Como Encarar Esses Desafios no Tratamento?
- Isadora Gondim
- 5 de mar.
- 4 min de leitura

Se você ou alguém próximo está em tratamento para interromper o uso de substâncias, já deve ter ouvido falar nos termos lapso e recaída. Mas o que realmente significam? Como diferenciar um do outro? Antes de tudo, é importante lembrar que parar de usar uma substância não é um processo linear. Existem altos e baixos, momentos de fragilidade e, às vezes, situações que levam ao uso novamente. O mais importante é entender que um deslize não significa fracasso, mas sim um sinal de que ajustes podem ser necessários no tratamento. Esses dois processos são muito frequentes durante o tratamento do uso de substâncias e o paciente precisa ser acolhido para que fique motivado a dar continuidade ao tratamento.
O processo de recaída pode gerar no paciente uma sensação de impotência, vergonha e desânimo. O que é um lapso? O lapso é um deslize momentâneo no qual a pessoa volta a usar a substância em um episódio isolado, mas rapidamente retoma o tratamento. Normalmente, ele ocorre em momentos de estresse, como conflitos familiares, dificuldades no trabalho ou emoções intensas. Nessas situações, o uso da substância pode ser uma tentativa de aliviar sentimentos desagradáveis. No entanto, o indivíduo logo percebe o que aconteceu e busca voltar ao caminho da recuperação. O que fazer diante de um lapso? ● Evite a culpa excessiva. O lapso não significa fracasso, e sim uma oportunidade de aprendizado. ● Identifique o que desencadeou o episódio. Saber quais situações ou emoções levaram ao uso ajuda a evitar novos lapsos no futuro. ● Busque apoio. Falar com um profissional pode fortalecer a motivação para seguir no tratamento. O que caracteriza uma recaída? Já a recaída ocorre quando a pessoa retorna ao padrão habitual de consumo da substância, abandonando o tratamento. Diferente do lapso, a recaída não acontece de forma isolada, mas sim como um processo mais longo, muitas vezes desencadeado por uma série de lapsos sucessivos. A recaída pode trazer sentimentos de impotência, vergonha e desânimo, levando a pessoa a acreditar que falhou completamente.
No entanto, é fundamental lembrar que a recaída faz parte do tratamento e pode ser usada como um momento de aprendizado para fortalecer a recuperação. Como lidar com uma recaída? Identificar os fatores que levaram ao retorno do uso. ✔ ✔ Revisar e ajustar o plano terapêutico com a equipe de saúde. ✔ Reforçar estratégias para evitar novos episódios. ✔ Trabalhar a motivação para seguir no tratamento, encarando a recaída sem culpa excessiva. Os gatilhos e o risco de recaída Muitas vezes, tanto o lapso quanto a recaída acontecem devido a gatilhos, que são estímulos que despertam a vontade de usar a substância. Esses gatilhos podem ser ambientais ou emocionais. � � Gatilhos ambientais: palavras, cheiros, sons, locais, pessoas ou situações associadas ao uso. Exemplo: um paciente que está tentando parar de beber, mas convive com familiares que consomem álcool frequentemente dentro de casa. Fica muito difícil a suspensão do uso se a pessoa encontra a substância que quer suspender na própria casa.
Gatilhos emocionais: sentimentos intensos que não foram trabalhados adequadamente, como ansiedade, depressão ou conflitos interpessoais. Exemplo: uma pessoa que tem uma relação conflituosa com um dos pais e, sempre que entra em discussão, sente necessidade de beber para aliviar a angústia. Para reduzir o risco de recaídas, é essencial minimizar esses gatilhos e criar estratégias para enfrentá-los de forma mais saudável. O que pode ajudar?
✅ Evitar contato direto com a substância, retirando-a do ambiente doméstico.
✅ Conversar com familiares e amigos, para que apoiem a recuperação e evitem expor a pessoa ao consumo.
✅ Preencher a rotina com atividades saudáveis, como exercícios físicos e hobbies, para reduzir a ociosidade e evitar pensamentos negativos.
✅ Buscar suporte psicológico, para aprender a lidar com pensamentos e emoções difíceis sem recorrer ao uso de substâncias, e para que desenvolva estratégias motivacionais para evitar o consumo
✅ Buscar suporte psiquiátrico, para que sejam identificados e tratados transtornos mentais como depressão e ansiedade subjacentes, que possam contribuir para o aumento do consumo de substâncias. O tratamento não é linear – e tudo bem! O caminho para a recuperação do uso de substâncias não é uma linha reta. Momentos difíceis podem surgir, mas o mais importante é seguir em frente. É fundamental que os profissionais de saúde, como psicólogo e psiquiatra, que estejam envolvidos em seu tratamento abordem o conceito de recaída para que sejam identificados os fatores ambientais ou internos que geraram o retorno do consumo e seja feito um novo plano terapêutico para evitar novas recaídas. Dessa forma, ao abordar fatores desencadeantes e promover estratégias para reduzir esses fatores, há menor chance de ocorrer novas recaídas. Além disso, é importante manter o paciente motivado para que consiga voltar a realizar as intervenções terapêuticas e conseguir ressignificar o episódio de recaída. Assim, esse episódio vira um momento de aprendizado e não de culpa.
Se você está passando pelo processo de abandono de alguma substância, lembre-se: cada dia sem uso é uma conquista. E, se um deslize acontecer, isso não significa que todo o progresso foi perdido. O mais importante é buscar ajuda, aprender com a experiência e continuar no processo de recuperação. Você não está sozinho. O tratamento pode ser ajustado e fortalecido para que a recuperação continue. � �
texto por dra Dra. ISADORA GONDIM
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